Terraço da Magia Social

no terraço

que visiono

da minha varanda

tem um ser encantado

que vaga

visionando o vento

 

quando na penumbra

o vemos negra

forte e de veia escrava

mulher bonita

que viva

parece um monumento

dentro de sua feiúra

intrínseco no seu contexto

 

na sombra parece uma tia

com rabo de cavalo

que não soma dois centímetros

e uma blusa larga

além dos óculos

 

mas no claro

parece um tio

moreno de cerveja

e aflito por baralho

óculos de sol

boné do ex-prefeito

 

terraço mágico

me desvendou a cara

do meu povo que sou

Um Ponto

eu paro na esquina e peço
um par de piras para por
ao pôr do isopor estrela pura

eu passo paro lado e paro
nem pular posso porque prego
e sem pernas num poço sem pedra

parou a paródia sem prumo
essa porra de verso partido piolho
pedágio de posses portas e um porco

eu desço sem pestes ao ponto
chegada partida da volta lascada
um pedaço de pê. um qualquer, vai aí

eu penso e pugilista de aposta
eu fujo de perder e ganho
só de nem lutar.

Título? Julgue.




eu to amando o mundo
como andando nu, mudo
pelo canto agudo sugerindo
na sujeira submergindo pra girar
o mundo das cordas e versos
as lentes opostas do vulto mudado

o mundo relampejando socorro
o zorro sem máscara roubando o mundo
e dando ao pobre o que se dá a deus
no mundo em que o mundo mendiga

eu vivo amando o mundo
dando a ele o sentimento profundo
da lateralidade minha espírito corpo política

eu amo a multidão como eu mesmo
e não quero mal a nenhum mundano
por mais que seja humano e sem mão direita
e filho de uma vida esquerda sem beira de abismo
o mundo alpinista é um cão com fome

tanto prédio, tanta coisa, tanto tanto
o mundo é um punhado de pranto

Foto Grafia P.XVIII - Final



nota o enquadramento
na imagem que denota o mundo
é um click fagulha
de tempo
que captura o real
e realiza a sagrada ruptura
entre o vivo e o papel

porque o papel tá vivo
ele se comunica
através da foto
da grafia da foto
e do grafar dos versos

posso retratar em verso
e iluminar as interpretações
com flashs de criatividade

nasceram um para o outro

se completam
tão plenamente
que dentro de um:
vemos o outro
de cabeça para baixo
e dentro desse:
o outro
de cabeça para cima

contextualizar
textual visualmente
e aprofundar a alma do leitor
com controversos
além de dar a luz
para as meninas
dos olhos
que espiam sentadas
balançando
pela captura egoísta
da fotografia

porque
escrever com luz
todo mundo sabe

o fotógrafo
é um poeta

Foto Grafia P.XVII

fomos como dois
pequenos passarinhos

e voávamos
pelas manhãs
mais lindas

mantendo eternamente
um sincronismo
que era só nosso
do canto nosso
do nosso planar

jeito nosso
de viver
forma nossa
de amar
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mas de repente
nos transformamos

e nos encontramos
uma divagando
o devaneio da outra

já não éramos aves
éramos pipas

enrolados
em nossas próprias
rabiolas

voávamos
decadentes

e não podíamos
alçar vôo nenhum
porque perdemos
a vida passarinha

não sabíamos
que tudo passaria
até o amor
passou.

Foto Grafia P.XVI

Sozinho

 

Nas solidões em que me perco
Todo corpo é uma fuga
E sempre fujo, corpo sujo
E assim me perco em mais outra solidão

 

Em madrugadas ligeiras
Só os versos me acompanham
Só a foice mostra a face
Só a força agüenta e deita

 

Nas solidões em que me acho
Rezo um terço em plena terça
E amanheço em outro quarto
Quando não, ajoelhado na esquina

 

E nas tardes traiçoeiras
Bebo a dor de mais um dia
Digo aos outros mil mentiras
E assim recebo tantas mais

 

Pois nas solidões em que me encontro
Todo verbo é o traço da meada
E os fiascos de ilusão compõem
Meu único motivo para amanha, amanhecer...

Foto Grafia P.XV

o que vai restar do amor
quando chegar ao fim
a beleza que existe no amar?

e a beleza que há
em compartilhar belezas
que não se fundamentam no tempo
quiçá na memória saudosa
do caminhar e do namorar e acarinhar

quando tudo for fim
o amor se sustentará pelo medo
da solidão?

talvez sim
mas e se for pouco?

a perfeição dos corpos
é a tolice de uma modernidade
retrógrada e infeliz

onde está a saúde
de nossos sentimentos?

cadê a definição perfeita
para o que sentimos
e a força que emana da fé
em viver de amor?

esquecemos
de malhar os olhos
para apurar os sentidos

e continuamos feito cegos
enxergando o básico
discernindo o feio do bonito
pela ótica da burrice

o que faremos
quando perdermos
a capacidade de amar
em silêncio e no escuro?
quando o corpo
não mais for suporte
à qualquer fantasia

ainda há de restar
ao menos
poesia?

]...[

 

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]...[

porque os versos
possuem fins discretos

são como meros fetos
que crescem e se desenvolvem
alimentados pelo amor umbilical

nem idade nem tamanho
o amor que move as rimas
é aquele que nos ronda as sinas
e nos faz amar sem saber

quando as rugas tomarem o rosto
e a velhice se encarregar do resto
quero saber onde todos buscarão amor

encontrar na arte
é se arriscar na sorte

amar assim é corte

solidão em trilha de aplausos
por entre elogios perdidos

eis aqui um salva vidas
que flutua no transalmático
do egoísmo

quando a maré levar
o vai e vem da puberdade
e as ondas de desamor não tiverem pés
o socorro existe
existe amor

pelo menos enquanto
existir a dor de doer
presente na insanidade
do marinheiro-poeta
que se encoraja
na sinceridade de um mar
chamado amor.

Foto Grafia P.XIV

 

a internet
multiplicou
o espaço da terra
por infinito

e nos comportamos
muito bem
na imensidão
do imensurável

somos alienígenas
de nós mesmos

o que somos nós?

 

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Foto Grafia P.XIII

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lá em outro planeta
encontraram um ser vivo
pintado de nada
cuja fêmea
tinha coração maior
que o macho

e todos os machos
eram trisexuais

enriqueciam
com uma moeda
que se toda fosse nossa
seria lixo

só não sabem:
é humano ou não?

Foto Grafia P.XII

 

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estou com medo
muito medo

medo de morrer amanha
e lembrar no segundo final
que meus tantos textos
vão ser apagados
na formatação de memória
lavada pelas lágrimas
do meu velório

meus versos
seriam minhas flores

morreriam comigo
e fertilizariam a vida alheia
num ciclo de sortes e azares

quantas vidas
se vão
e quantas obras
se perdem?

um morto
significa uma perda
que não tem tamanho

imensurável
pela justificativa
do invento

desafio a humanidade
a ser humana

vamos respeitar a vida
pois alimentaremos
o progresso

não mataremos
nunca
porque sabemos
que matar
também é morrer

Foto Grafia P.XI

 

Minha terra: tantas tretas
Como outro lugar não há
Mas já houve aqui floresta
Praia, samba e sabiá

Nossa essência, esperteza
Tens aqui mil professores
Honestidade de saída
De saída, sem temores

Em cismar, sozinho, um dia
Me pus eu a observar
Minha terra: tantas tretas
Salvem, salvem o sabiá

Minha terra: tantas tretas
Camufladas lá e cá
Em cismar, sozinho, um dia
Eu me pus a discordar
Minha terra: tantas tretas
Não mais canta o sabiá

Fale Deus se quer que eu morra
Pra não mais ter que voltar
Dos castigos os piores
Hoje quero me exilar
Pois há incessantes tretas.
Se exilou o sabiá.

 

Pátria Devassa

 

em Canção do Exílio, Gonçalves Dias.

Foto Grafia P.X

 

quatro filhos
esvaziados
pela barriga
que agora sente fome

em nome de deus
um trocado

em plena capital do mundo
a pobreza pobrezinha
é sempre podre
e poluída
pelos olhares públicos
cheios de pena

deus abençoe
o doador que não divide
migalha esmola
porque no fundo
acha que vale mais

não é assim
perante deus

pai,
proteja essas
crianças
que nem se quer tem pai

dignidade
nunca é pedir
demais

o mínimo
de humanidade
é a igualdade
eu quero isso
ou então
vou pedir esmola

ao invés do copo
o cidadão
abre uma conta no itaú

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Foto Grafia P.IX

 

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era um bicho

homem

 

que observava

o tempo

soerguendo

o pescoço

e a própria sorte

 

ele não sabia

ele não sabia

ele não sabia

 

então babava

sobre a beleza

da vida

sem se preocupar

com seu passar

 

ponteiros

e sombras

 

minutos finais

orações adeuses

 

que horas?

que fiascos

inexistentes

de tempo?

que fiascos?

 

paralisado

o homem se mexeu

sabendo nunca chegar

 

e a ilusão do homem

é fingir que já

chegou