Tão Altos

nos acostumamos mesmo a ver as coisas de cima
e assim pensamos sobre tudo que está abaixo
sem o menor pudor de sermos altos
superiores do que aquilo que seria tão maior
se o víssemos de baixo ou de igual para igual

somamos nossos contrapesos e não dá em nada
somos tudo que somos enquanto isso o sol nasce
e nos orgulhamos de o ser enquanto isso o sol morre
e morremos lutando enquanto o dia renasce

nos acostumamos mesmo a ver tudo do alto
pensávamos que seria pra sempre o nosso hoje
elevados ao ego ou ao credo o que for

tão altos que somos [tão altos]
que padeceremos breves e tangentes
por não dá valor ao pé no chão

o ponto de vista é a pista do mundo
vagabundo mundo que se vende ao olho humano
tão altos que somos [tão altos]

impossíveis de observar as estrelas
que nos ninam a noite inteira nas alturas

desencontrados da vida simples
no corpo e mente da mulher amada

nos acostumamos mesmo a falar mais das coisas
do que nas coisas da vida
e tão altos que somos [tão altos]

esquecemos da vida
e enfim
nos acostumamos.

2 comentários:

Maria Amélia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Amélia disse...

Acostumar é foda!

"...nos acostumamos mesmo a falar mais das coisas
do que nas coisas da vida
e tão altos que somos [tão altos]"

Gostei tanto disso...

Sabe um ponto comum entre poesia e jornalismo?
Ambos têm que ordenar um caos.

Beijo!Beijo!
Te adoro ;)