Inacreditável



Numa cidade muito longe, muito longe daqui...o time de futebol mais querido, atuando em partidas excepcionais, é recém campeão de um título em decisão de dois jogos, devidamente vencidos. Na competição de maior peso no seu cartel dos “a jogar”, uma barreira de oito metros eliminatórios divida em mais dois duelos, um fora e outro dentro de casa. De praxe é que a torcida faça gols e transforme o elenco do time em um quartel general de guerrilheiros infalíveis. Já quando ainda mais longe daqui, o time não tem hábito de ter êxitos tão significativos, mas teve. Venceu lá fora, onde era impossível vencer. Perdeu aqui dentro, onde era impossível perder.



Não há zuação ou zombaria que se compare ao silêncio do torcedor, ou melhor, de qualquer cidadão brasileiro que seja minimamente fã de futebol. Inacreditar é um princípio mais que filosófico que move mais do que títulos e comemorações. No dia sete de maio do ano galopante de dois mil e oito, o silêncio falou mais alto. Pra compor um quadro mais bem elaborado de coincidências ainda é preciso dizer que sete de maio é conhecido como o dia do silêncio, de verdade. Na literatura, Anjo Pornográfico é o nome da biografia de um homem que merecia estar vivo, porque nós precisávamos da analise dele sobre isso. Talvez precisamos até mesmo ouvir o silêncio de Nelson Rodriguez. O anjo negro é um personagem que ninguém escreveu. Um herói bandido que trabalha com os pés e perde jogo com as mãos. Não dá para acreditar na perfeição simétrica do destino. Parece que alguém planejou tudo durante noites e mais noites de pura insônia.


A felicidade duelando diretamente com a tristeza. Eqüidistante. Como se houvesse um déficit, uma compensação. Inacreditar nessa perfeição tragicômica é um presente que só o Flamengo pode proporcionar. Nem de grego, presente à moda brasileira. Cinqüenta mil torcedores pagam para ver exatamente aquilo que eles não queriam, o pesadelo da derrota, da eliminação, do vexame. A despedida do comandante era pra ser com chave de ouro, mas pra que trancar a história? O futebol é arte não só na lambreta, mas também na lama.


2 comentários:

fábio disse...

madrugaremos então meu camarada!!!marugaremos...

Maria Amélia disse...

Olhar lírico até pra falar de futebol. Coisa que me parece tão chato. Mas você conseguiu uma aproximação tão grande com a arte, que achei bonito.

beijo, meniniinho.